sábado, 5 de junho de 2010

E.F.E.I.T.O. - Pelourinho que nome é esse?

Muitos e muitos anos atrás, quando salvador ainda não tinha a doçura de Dorival Caymmi nem a maluquice dos Novos Baianos ou a supremacia dos Doces Bárbaros, os coronéis e barôes do café dominavam a área criando suas próprias leis e fazendo mandos e desmandos cada qual em sua região.

Porém algumas coisas eram padronizadas. Nós negros éramos sempre bons servos, escravos mesmo e o mais próximo que chegavamos da burguesia era pra dar um pega nas donas mais assanhadas e fogosas ou como capacho de briga pra pegar algum valentão a mando de "Sinhô Coroné".

Fora isso nós tínhamos nossos dias de festa nos idos de fevereiro, março quando as chuvas chegavam e podíamos comemorar nas ruas. Lógico depois do toque de recolher para que as "pessoas de bem" não se encontrar com a ralé (como se fossemos os enviados do capeta mesmo). Nesses dias nos reuníamos pra tocar nossas músicas cultuar nossos santos mascarados de santos brancos católicos e curtir com o pouco de alegria que tínhamos aqueles 4 ou 5 dias de festa (pelo menos para nós).

Nossas festas eram muito agitadas e a molecada, filhos das "pessoas de bem" ficavam nos espiando de seus sobrados e quartos avarandados a zona que tocávamos. Sim zona, pois bebíamos, dançávamos, requebrávamos e beijávamos... e sempre rolava de tudo, só os padres (se é que num entraram nesse rolo também, pois tenho minhas dúvidas) ficavam de fora.

E o pessoal começou a se fantasiar e exigir cada um que seus "escravos" fossem fantasiados para poder ir junto. E ai de quem falasse que o Lençol azul era o Coroné... ele queria é ficar com as mulatas sem forçar nada, aproveitar de todo o fogo que aquelas belas ancas tinham, todo aquele rebolado que quando eram pegas a força não faziam por medo por perplexidade do ato estúpido e inconseqüente.

Retornando as festas que é nosso foco, estas começaram a ficar mais organizadas e todos deveriam ir fantasiados, pois assim não existiria a distinção entre escravos, "gentes de bem" e até as mais fogosas pulavam cercas para arrumar seus lençóis coloridos para a festa.

O ponto principal da festa era próximo ao grande hotel, saída de blocos de pessoas que dançavam em sincronismo defendendo seus deuses e santos na palavra cantada e na batida de seus tambores. Porém o inevitável aconteceu. Todo o mundo sabia da bendita festa hora intitulada Semana do Desfrute Carnal ou resumidamente Carnaval. E não é pra menos os coronéis começaram a trazer convidados de todos os cantos. E foi justamente numa festa dessa que aconteceu o fato, motivo deste texto.

Saindo do hotel descendo uma grande e bela ladeira, chegava-se no ponto inicial do Carnaval em Salvador, a grande praça central, onde tinha o pau de sebo que durante o ano inteiro escravos pagavam suas penitências.
Não é para menos numa dessas festas apareceram alguns visitantes convidados do Coronel Antonio Bento,  também conhecido como Coroné Alemão, não por seus cabelos ou algo do gênero, mas pelo seus clientes internacionais que pagavam bem pelo seu produto e os levavam para o Norte Europeu.

Porém dentro daquele calor de rachar, mesmo apenas a luz de lampiões os intrépidos visitantes resolveram conhecer a tão famosa festa, só não mais famosa que as festas do Deus Baco (mitologia Romana) e de Calígula imperador romano de 37 a 41 DC. Mas o pior estava por vir, como fazia o tal calor que todos devem conhecer (pois quem não foi na Bahia têm que ir), os alemães (por assim dizer) foram descalços para a festa, porém devido a sua altura, tamanho e a cor extremamente branca dos pés com os pelos loiros, o pessoal percebeu de cara de quem se tratavam e logo um animado participante ao observar aquele bloco de lençóis vermelhos com as pernas descobertas, denunciando-os  gritou:

- Olhem lá pessoal na Ladeira está cheio de pés loirinhos...

O falatório começou e aquele zum zum zum foi chegando cada vez a mais ouvidos e tudo o que se ouvia era que na Ladeira vinham os péloirinhos assim intitulando uma das mais famosas Ladeiras e ponto de encontro do carnaval na Soteropolitano.

Trecho tirado do Livro: Contos Baianos por quem num conhece nada!?
Mais um fascículo da coleção: Histórias pra Boi Dormir
Da Editora: Lunática
Autor: Danibron Barbosa
ISBN: Ainda não disponível