Me entenda ou tenta!

PRA ME ENTENDER

“Mais um ensaio sobre a vida”

por Daniel Bronzeri Barbosa



Introdução


Tudo aqui começou pois não sei explicar algumas coisas que me perguntam e pedem sobre a vida. Nem sei se seria assim mesmo, sobre a vida, mas me parece que sejam coisas do meu cotidiano, da minha cultura, da minha filosofia de vida. Ou seja, como eu trato no meu viver as pessoas, as coisas, emoções, preferências uma mistura muito estranha e pouco simples.

Algumas coisas são importantes dizer logo de início, pois pode será bem confuso entender essa “partezinha” da minha essência que quero compartilhar. Com certeza de faltar muitas definições, sou prolixo, verborrágico, sofro de logorréia pois nem sempre sou coerente nesses fios sem fim. Me sinto atípico, divergente e inicialmente negativo.

Sou chato!

Então leia por conta e risco, não me diga que foi por falta de avisos que você passou a ter raiva, não são desculpas, nem respostas objetivas que quero trazer aqui, mas sim os famosos “pensamentos soltos traduzidos em palavras pra que vocês possam entender o que eu também não entendo”.

Não prometo diversão, aventura, romance, suspense ou terror, nem mesmo um documentário sério sobre a psique, sobre um ser complexo.

Um ateu ou um à toa e seus pensamentos de engenheiro vivendo na terra da garoa.


O que é a vida?


Uma vez que o oposto da morte é o nascimento, consideremos a vida um processo, ou seja viver é um processo entre a vida e a morte e difere sim de existir, pois mesmo depois do processo a sua existência deve ser considerada, validada e aceita. Para deixar de existir precisa de muito esforço de esquecimento das pessoal, do mais ínfimo efeito que você tenha exercido em algo e alguém e toda suas consequências. E assim, alguns poderão dizer que com essa existência, ainda existirá vida mesmo depois da morte.

É isso que eu escolho:

“A vida é tudo que ocorre desde o seu início mágico chamado fecundação, ou o encontro inicial de dois que viram um e se multiplicam em vários. E principalmente um conjunto de relações e novos encontros com outras vidas, outras coisas e lugares que vão se perpetuando a partir do primeiro e expandido nossa natureza.”

E para definir ou tentar explicar como se dão essas relações (base da vida), vou além, tento ser prático, as vezes tosco, as vezes tácito, faço muitas extrapolações afim de exercer uma pedagogia crítica, logo uso duas analogias que não sei exatamente onde vi, de onde tirei, se de uma música, um sonho ou alguém (me contou), pode ser minha infância nos anos 80 que me leva a pensar isso, mesmo sem ter acompanhado as novelas e grupos musicais infantis tão de perto, mas comparo essas relações que uma pessoa cria como o tudo na vida como um grande Carrossel ou, abusando do mineirísmo por empréstimo, relaciono-as a um grande Trem.


Um Carrossel, tá maluco?


Não, não sou maluco, é um carrossel e cada um seria o centro que move as outras vidas e coisas em volta desse carrossel, cada qual ligado a outros, expandindo em diversos carrosséis, como as células de um corpo que se sobrepõe, grudadas, se expandem, caminham...

Para entrar nesse carrossel, não tem um convite específico, não tem uma tarefa, mas existem permissões e a depender de quem ou do que esteja, onde ele mesmo esteja, do ritmo, da música, dos cheiros, das cores, dos humores, dos sabores, das presenças o ritmo muda, a intensidade muda, a velocidade ou a sensação que ele transmite diferencia os sentidos.

Já para se manter nesse carrossel é preciso ter relevância, é preciso causar efeito, uma mínima reação, senão escorrega e não faz sentido manter isso ali.

Ele é abastecido com o melhor combustível desse mundo, o Amor!

Cabe infinitas coisas, pessoas e lugares e principalmente, não existe a necessidade de classificar quem está mais perto do centro, quem é mais importante, quem recebe mais ou menos Amor ou quem se diverte mais. Tem Amor para todos e as pessoas recebem conforme suas réguas, tem diversão, emoção, prazer e todos os seus contrários também.

Qual seria o motivo de quantificar o bem-querer? Satisfazer o ego de outro carrossel?

Prefiro evitar essa armadilha de colocar hierarquia, de criar fila de prioridade, por isso não é uma pirâmide, ou um grid de largada, também não tem um tamanho específico definido, não tem fila e a proximidade é medida pela distância do centro, do motor, no momento, na foto que se tira.

Não quero capitalizar as relações, criar etiquetas de esse é mais aquele é menos, criar um valor especulativo apenas para criar cisão, prefiro ser comum, simples, genérico, aberto a tudo e a todos e com um mínimo de regras necessárias para que funcione. As vezes precisamos rever as regras, adaptar uma coisa aqui outra ali para continuar girando. Tem lugar para todos, tem seus altos e baixos, tem diversos modelos de participação, pode ser uma nave espacial, um cavalinho que sobe e desce, uma moto ou uma tranquila charrete e tem combustível para todo mundo.

Pode gerar felicidade, aventura, suspense, criar um frenesi, ou trazer calma, tem potencial para ser bom, mas pode ser o contrário.

Pois meu Amor é infinito!


Mas e o Trem?


Uma analogia muito próxima a do carrossel eu uso com o Trem, o motor na locomotiva, alimentada pelo Amor, recheada de relações, pessoas, coisas e lugares, com diversas velocidades, diversos momentos e situações.

As pessoas passeiam entre os vagões, entram e saem nas estações, hora estão no vagão do trabalho, migram para o vagão da diversão, vão para o vagão dos jogos, do restaurante, voltam para o vagão dormitório, vagão de carga, vagão de recarga, o pequeno vagão dos exercícios físicos ou o imenso vagão com espreguiçadeiras. Com uma certa liberdade regrada de ir e vir, de estar, de permanecer, de ficar e de sair.

E esse tem pode até parar um dia, mas nunca deixará de existir pois levou as coisas, as pessoas, passou por lugares e esses simples fatos, mexem na essência, incorporam sua presença e faz com que sua existência tenha significado, mesmo depois de sua parada. Ele pode ser lembrado, visitado e pode ser esquecido e deixado de lado para enferrujar e quem sabe quando o impacto for ínfimo virar poeira cósmica.

Agora que passamos pelo carrossel e como definir algumas relações, estamos usando o papel e a escrita, ou indo além, considerando que a principal inovação humana foi aprender a contar histórias e não dá para contar tudo de uma vez, há os que se sentem primeiro, e os que se sentem privilegiados, mas na real existem motivos de estarem aqui e esses motivos talvez sejam mais lógicos, pra mim do que prioritários.


Quem me deu a vida?


Meus pais, não há nada nesse mundo que alguém possa me dar que supere isso, é o maior presente que as pessoas podem dar. E no meu caso essas pessoas também me ensinaram como andar, como criar as regras, como usar o combustível e me incentivar para entender que esse combustível é inigualável.

Me carregaram e me carregam em seus carrosséis e trens. Me deixam transitar com cartão vip nos diversos vagões, nas diversas posições, me aproximo e me afasto praticamente como quero, as vezes com uma pintura diferente, escondendo um risco, as vezes com a dureza de um banquinho de madeira, outras com um travesseiro de viscoelástico hiper tecnológico que me faz sentir em nuvens de algodão doce.

Por sorte nunca saí do carrossel deles, de certo nunca deixará de existir, mesmo quando parar de andar.


Quem expande a vida além de mim?


Meus filhos, eles colocam a vida não só em perspectiva, mas mostram que existe algo além de mim, por sorte, por escolha, por precisão. É o que fiz de melhor, meu coração exposto. Um carrossel que criei e que se expande pra ficar ainda maior, um trem que acelera, que puxa meu trem, que dá razão ao meu trem continuar existindo, como um museu, como uma memória, mesmo depois de minha última parada.

Um carrossel insano de tão divertido, angustiante de tão preocupado que nos deixa. Um carrossel que muda nosso carrossel, que ilumina ou põe nas sombras, que aumenta o volume ou diminui, que tira o foco de outros carrosséis. Um trem que se encontra em diversas estações e que pode sem mais nem menos, seguir outros trilhos. Que tentamos direcionar, mas que pode tomar e criar seu caminho.

Que tem destino, que tem horário e que leva alguns dos nossos vagões com eles, bem copiados ou os próprios.


Quem eu escolhi para estar do meu lado?


Minha mulher, ela é a escolha, quem está do meu lado, quem eu deixo mexer no comando do trem, quem entra de fato e de direito na locomotiva, quem pode acelerar, desacelerar, abastecer e tirar o fôlego.

Que está comigo em meu vagão mais íntimo. Que compartilha a alma e trilha comigo dando sentido aos projetos, desejos e sonhos para levar esse trem adiante. Quem anda lado a lado no cavalinho, se diverte, sofre, ri e chora junto.

Como dito antes essa é a escolha, não me dá algo essencial, não depende ou expande minha existência. Mas expande com o seu carrossel, com o seu trem, com o seu combustível onde podemos chegar, e principalmente a qualidade de como podemos chegar. Com ela eu quero estar, permanecer, ficar, e chegar até a parada final. Cuidando de nossos vagões, pintando a charrete tranquila, passando pelas diversas estações.

É com ela que quero criar os caminhos e escolher os destinos para irmos juntos.


Quem me dá suporte?


Meu irmão e os amigos de verdade, aqueles que sabe quem são, que me mostram a vida em pé de igualdade, me ensinam e aprendem um pouco comigo, fazem comigo ao meu lado, o que poderia ou não fazer sozinho, mas com eles fica mais interessante, jogam em time, marcamos os pontos juntos. Compartilhamos nossos trens, nossas estações visitamos os vagões uns dos outros.

Brincamos em nossos carrosséis, nos divertimos e nos sentamos para conversar naquele cantinho que gira com mais tempo. Nos percebemos, nos aceitamos, nos ouvimos... Tudo com a urgência necessária para cada ocasião.

Somos confidentes muitos a muitos, onde muitos pode até ser um só fazendo o papel de outros. Também nos escolhemos, muitas vezes insistimos, outras vezes nos liberamos das obrigações autoimpostas. Nos distanciamos, ficamos tempos sem contato, mas quando precisa estamos lá um para o outro.

Cada um com um destino, passamos em diversos pontos juntos pois andamos juntos, em bandos, criando um verdadeiro parque de diversão, fazendo dos trilhos que dividimos parte essencial da nossa história.

São eles que contaram nossas façanhas, nossas derrotas e vitórias, na voz deles também nos expandimos para além da mera existência física.


O valor do Amor


O Amor transforma tudo, cria tudo, inclusive as sensações adversas, infelizmente, ou não (quanto vai e volta), cria ilusões, cria situações, cria fatos e também cria verdades absolutas para uns e meia-verdades (mentiras inteiras) para outros.

Torcidas, vibrações e rezas ou tudo que se preza. São ações para distribuir Amor, para mostrar que é possível transferir sem perder.

Amor é algo que se dá e não se perde!

Se dá o quanto se tem, recebe o quanto consegue, Amor se soma, se multiplica na pura intenção de dividir. Porque a matemática do Amor é diferente da racional, uma divisão exata que nunca tem resto, uma multiplicação máxima, e quando se dá, mostra o quanto consegue ter ainda mais. Quando torcemos geramos Amor extra, o tal do plus a mais adicional.

E na realidade o Amor não se deixa quantificar, tem seu valor, mas não é numericamente compatível com nenhuma régua conhecida, logo sem ações não é possível comparar o quanto mais se tem de Amor, o quanto mais se ama algo ou alguém.

O valor do Amor está no quanto achamos que aquilo vale é sim uma cotação individual e geralmente o valor é intransferível, diferente do próprio Amor. Nunca se dá muito Amor, mais que o necessário, menos do que precisava.

Amor não é atenção, mas também pode ser, não é cuidado, que pode ser, não é tesão, vontade, admiração, presença, saudade, prosperidade, abundância, mas também pode ser isso tudo ao mesmo tempo e de formas diferentes.

Tenho a impressão de que a necessidade de quantificar o Amor venha da necessidade de qualificar e quantificar relações. Para fazer disse uma posse, algo que consigamos comercializar, gerar riqueza efêmera, para mostrar para os outros, para exibir, sustentar egos frágeis.

Essa necessidade de quantificar as relações é desinteligente, deselegante, gera conflitos pois tem como base definir o bem e o mal, o bom e o mau, o melhor e o pior e não tem bom senso no mundo que crie regras normais a todos, pois as culturas são diferentes, as tradições, as manias, as características pessoais, as adaptações ao meio ambiente local, é um outro céu, com outras estrelas iluminando, o horário difere, as marés, a temperatura, a vegetação, o vento... Como aplicar uma regra única ou um bom senso para esses gostos diferente?

A criança aprende de outro jeito, formando pessoas diferentes. Que tem valores diferentes, alguns preferem o doce, outros o salgado. A alimentação de um tem por normal, ser uma refeição completa logo cedo, outros comem pouco e sempre, já muitos nem podem comer e agradecem o pouquíssimo que recebe.

Até a água se mostra escassa, para não falar da segurança física, de uma cobertura para a chuva, uma proteção ao vento. A pele fica mais ou menos exposta a intempéries envelhecendo com rapidez ou sendo extremamente cuidadoso.

O trabalho é diferente e a necessidade, dedicação vai de acordo com a posição da pessoa na hierarquia social.

O que todos tem, podem gerar e dar sem medo de perder?

O Amor!

Podem Amar, ser amado, sem medo de ficar vazio, tudo e todos. E podemos até dizer que algumas coisas não deveriam ser amadas, mas quem somos nós para definir isso? Quem sou eu pra dizer o que, quem, onde e quando deve-se Amar?


Existe errado para Amar? Ou certo?


Amamos de tudo, como já falei, repeti e insistentemente digo de novo, absolutamente tudo da poeira ao universo podemos Amar.

Mas existe algo que não possa ser objeto foco do Amor, tem coisas que pode não ser apropriada, já respondo, para cada um terá sim, e cada um terá sua lista do que é e o que não é, o que deve ou o que não deve, é um juízo de valor SEU, MEU e INDIVIDUAL, podemos ou não entrar em acordo, mas é um julgamento.

Armas de destruição (que alguns chamam de proteção), dinheiro (a arma mais mortal utilizada pelo capitalismo), assassinos, pedófilos, psicopatas, o inferno, o paraíso, o deserto, o interior de um vulcão ou a profundidade de uma geleira? A guerra, a morte, a dor, o ódio, a palavra? Algo pode não ser amado?

Para alguns sim, para outros não, pode ser esse o objetivo da vida da pessoa, pelos motivos mais improváveis ou simplesmente “porque sim”.

E se não existe um errado o certo me parece obvio que também não é, muito menos obrigatório, um pai, uma mãe, um filho, a casa, a familia, os amigos, o trabalho, o ócio, o descanso, a viagem, o sol ou a lua. A comida, a água, o ar, dançar, correr, dormir. Precisamos nos obrigar a Amar o que não queremos, o que não consideramos assim? Precisamos de Regras?

Eu Amo, Amo Tanto, Amo Tantos, Amo Tudo, Amo Todos. E gero cada vez mais conforme uso meu Amor. Meu Trem só aumenta de tanto Amor que tenho para dar, de tanto Amor que posso receber, meu Carrossel gira cada vez mais alegremente, e vai pra cima e pra baixo de tanto que tenho para compartilhar.

Me Amo! Te Amo! Nos Amamos! Eu Amo!