segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Sonho de uma Noite de Verão - Ato I Cena I


HÉRMIA - Formosa Helena, por que tanta pressa?
HELENA - Eu, formosa? Desmente-te depressa. 
Ama Demétrio a tua formosura; 
nesses olhos encontra a luz mais pura; 
acha ele em tua voz mais melodia 
do que o pastor na doce cotovia, 
quando o trigo nos campos enverdece 
e o pilriteiro de botões se tece. 
Se, como as doenças, fosse contagiosa 
também a formosura, eu, jubilosa, 
me fizera infectar, ó Hérmia bela! 
de teus encantos, sem maior cautela; 
com tua  voz ficara nos ouvidos; 
teu olhar, nestes olhos combalidos; 
tua fala de música esquisita 
consolidar viria a minha dita. 
Se o mundo fosse meu, ficando fora 
Demétrio, de todo ele, sem demora, 
me desfizera, caso conseguisse 
tua beleza obter, tua meiguice, 
porque sendo, como és, o meu contraste, 
seu coração bondoso conquistaste. 
HÉRMIA - Faço-lhe cara feia, ele me adora.
HELENA - Tivesse eu risos feios desde agora!
HÉRMIA - Digo-lhe doestos, e ele amor me vota.
HELENA - Quem me dera na voz tão doce nota!
HÉRMIA - Vai de par seu ardor com o meu desdém.
HELENA - Com o seu desprezo o meu amor também.
HÉRMIA - De tal loucura a culpa não é minha.
HELENA - É de tua beleza. Fosse a minha!

William Shakespeare