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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Amor, pois que é palavra essencial

Amor – pois que é palavra essencial 
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.
 
Quem ousará dizer que ele é só alma? 
Quem não sente no corpo a alma expandir-se 
até desabrochar em puro grito 
de orgasmo, num instante de infinito?  

O corpo noutro corpo entrelaçado, 
fundido, dissolvido, volta à origem 
dos seres, que Platão viu completados: 
é um, perfeito em dois; são dois em um. 

Integração na cama ou já no cosmo? 
Onde termina o quarto e chega aos astros? 
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna? 

Ao delicioso toque do clitóris, 
já tudo se transforma, num relâmpago. 
Em pequenino ponto desse corpo, 
a fonte, o fogo, o mel se concentraram. 

Vai a penetração rompendo nuvens 
e devassando sóis tão fulgurantes 
que nunca a vista humana os suportara, 
mas, varado de luz, o coito segue. 

E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da prórpia vida, 
como ativa abstração que se faz carne, 
a idéia de gozar está gozando. 

E num sofrer de gozo entre palavras, 
menos que isto, sons, arquejos, ais, 
um só espasmo em nós atinge o climax: 
é quando o amor morre de amor, divino. 

Quantas vezes morremos um no outro, 
no úmido subterrâneo da vagina, 
nessa morte mais suave do que o sono: 
a pausa dos sentidos, satisfeita. 

Então a paz se instaura. A paz dos deuses, 
estendidos na cama, qual estátuas 
vestidas de suor, agradecendo 
o que a um deus acrescenta o amor terrestre. 

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Chuta, pisa e machuca - Nad Johnes

Mas eu sei quem eu sou.
Não preciso me rebaixar.
Não preciso fazer
o mesmo que você.
Não fico te rodeando,
como um piolho de (*),
que fica só na bordinha.

Aprendi a viver sem coisas.
Aprendo tudo de novo.
Mas você parece que não.
Que precisa estar sempre ali.
Sempre fugando no cangote.
Lembrando o quão coitado,
pode ser um ser humano

Arque com suas escolhas.
Dessa forma elas são incompatíveis,
com tudo o que você tem feito.
Limite-se ao seu território, as suas coisas.Pois na hora de me cobrar tem validade.
Mas não sabe dar um obrigado de volta.

Veja só o desagravo causado.
Veja só quão inferno tudo se torna.
Não olhe apenas meus tombos.
Olhe também o que me faz cair.
Lembre-se que você provoca isso.
Que és tu que vives a me empurrar.

Se minha cara está ensanguentada.
Foi você que me chutou no chão.
Se minha mão está roxa.
Foi você que me pisoteou.
Se meu coração está quebrado.
Foi você que o machucou.

Nad Johnes

O Amor

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

Fernando Pessoa

domingo, 24 de outubro de 2010

Gotinhas Uivantes!


Sim... me embasbaquei,
da primeira vez que olhei.
Me senti hipnotizado.
por você enfeitiçado.

Suas formas, me encarando.
Tu vivias me atiçando.
E não demorei a tocar,
mesmo dia, hora e lugar.

Muito belos e suave,
de um toque tão gentil. 
Não era só mais um sonho, 
mas uma vontade viril.

Cresceram junto a mim,
como flores no meu jardim.
Eram meus montes uivantes.
Em momentos alucinantes.

No carro ou na porta de casa,
de dia ou de noite, enfim.
Queria sempre alcançá-la.
guardá-los pra sempre em mim.
 
E fez-se a transformação,
gotinhas que cabem nas mãos,
Sinto de novo o prazer sutil,
Desejo e vontade, coração a mil.



"Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair"
 
Eu te Amo - Chico Buarque e Tom Jobim

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Lua Branca (Saudades do seu bumbum)

Linda e clara como a lua.
Redonda e cheia de tesão.
Quero vê-la sempre nua.
Vou beijá-la de montão.

Se um dia eu conheci.
A mais bela calipígia.
Sei que muitos vão ouvir.
O seu nome não se aflija.

Pois direi pra todo mundo.
Que perfeita, forma és bela.
Bunda branca desse mundo.
Tão gostosa só é dela.

Sou tarado, não me importo.
Faço ode ao seu bumbum.
Sente saudades, cá este moço.
Todo dia, num passa um.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Nem precisa abrir as portas.

Ela chega e logo te desconcerta.
Por horas, sua cabeca deixa aberta.
E fica tirando a sua razão.
Essa maldita da Intuição.

As vezes é outro que te atrapalha.
Sua cabeça ele embaralha.
Te deixa deixa ausente, ou mesmo dormente.
Esse chato do Inconsciente.

E quando menos percebemos: "olha lá!".
Com sua exatidão vem alertar.
Mas é um gastador, o filho pródigo.
Vem o inquieto pensamento Lógico.

Por fim, recebo a visita.
De uma ilustre senhorita.
Que só quer mesmo ter atenção.
Entre depressa, oh dona Paixão.

sábado, 25 de setembro de 2010

Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Augusto dos Anjos

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Amor - pois que é palavra essencial.

Amor – pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.

Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?

O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.

Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?

Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.

Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.

E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da prórpia vida,
como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar está gozando.

E num sofrer de gozo entre palavras,
menos que isto, sons, arquejos, ais,
um só espasmo em nós atinge o climax:
é quando o amor morre de amor, divino.

Quantas vezes morremos um no outro,
no úmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.

Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre.

Carlos Drummond de Andrade